domingo, 23 de dezembro de 2018

Ajuda em tabletinhos

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Como é difícil aceitar que você tem um problema. Que você tem uma doença. Que você não precisa colocar sua máscara de ser feliz, todos os dias. Como é difícil aceitar que você precisa de ajuda.
Eu não sei como é a dor do parto, já que eu nunca pari, mas sei bem como é uma cólica renal daquelas de injetar morfina na veia e não passar, por isso eu digo, aceitar que você precisa de ajuda, dói mais que uma cólica renal. Ainda mais quando a ajuda é pra uma coisa, que a maioria das pessoas que vêem de fora, acham que é frescura.

Com, a facilidade, ao acesso à internet, todos somos especialistas, médicos, marceneiros, chef's de cozinha e tudo aquilo que nos predispomos a pesquisar por lá. 
Eu como boa curiosa, há tempos vinha pesquisando sintomas, diagnósticos, tratamentos e afins, e sempre ao final das pesquisas com aquela sensação, isso só pode ser caraminhola da sua cabeça. E por muito eu tempo eu acreditei que fossem apenas caraminholas mas, infelizmente, não eram.

E eu só passei a aceitar isso quando o meu maior prazer na vida, a comida, foi afetado. Eu já tinha parado de sair, beber, dançar, me divertir e afins, mas como eu ainda estava comendo, estava tranquilo, eu não podia estar doente. Pra se ter ideia, eu saí da sala de recuperação, pós cirurgia bariátrica, com fome. Ou seja, nada tira/tirava minha fome. Até que um belo dia eu não tive fome, não tive vontade de comer e algumas tentações estiveram ao meu alcance, no qual eu entraria em uma briga por elas e eu simplesmente, dei de ombros. Achei que fosse normal, calor, verão, aqueles suadouros ótimos, no qual eu já estou acostumada a ter todo verão, desde que eu operei. Ou seja, por mais um tempo, me deixei de lado.

De repente me vi, saindo de casa apenas para trabalhar, sem comer, o que comia eu vomitava, com muitas dores pelo corpo e hematomas espalhados pelo corpo todo. Não, ninguém me batia, ou melhor, às vezes era a vida e eu não tava sabendo, eu parecia estar camuflada, de tanto hematoma espalhado, sorte ou não, a maioria eram em partes que as roupas escondiam. Eu já não sabia mais o que fazer, quando recebo a confirmação da minha consulta com meu médico, queridíssimo diga-se de passagem, que me acompanha desde antes da minha cirurgia. Respirei fundo e me disse em alto e bom som: "GUENTA MAIS UM CADINHO, SUA LUZ NO FIM DO TÚNEL, ESTÁ APROXIMANDO".

E lá fui eu pra minha consulta, como sempre, aquela acolhida que acalenta, conferimos que, biologicamente, tudo estava normal e muito bom, até uma surpresa boa ao subir na balança, coisa que já era perceptível nas roupas, eu tinha emagrecido e não foi pouco, pelo tempo de comparação. E aconteceu o que eu mais temia, depois de muito conversar, desabafar, pedir todos os exames, inclusive alguns que eu deveria pedir pra outro tipo de médico, eu peço a ele, eu ouvi ele dizer; Vou te encaminhar ao psiquiatra!!!! Meu mundo caiu. Um buraco se abriu embaixo dos meus pés e aquela bendita dor no estômago voltou, como se eu tivesse levado um soco bem dado.

Respirei fundo, e tenho feito isso exageradamente nos últimos tempos, eu disse a ele... Me ajuda, pelo o menos mais uma vez, até a nossa próxima consulta. Se até lá, não tivermos conseguido uma melhora, eu aceito o encaminhamento e volto pro psiquiatra. Ele, sensato como sempre, disse: Eu, como clínico geral, cheguei no ponto máximo do que posso te ajudar. Mas te darei esse perído de teste mas você terá que se ajudar também. E fizemos um trato. Ele fez todas as receitas e lá fui eu pra farmácia procurar o que ele prescreveu. Quando eu percebi que teria que dar um pedaço do fígado, pra poder comprar tudo o que ele havia prescrito, o que me confortou é saber que o fígado regenera. :)

Como a medicação é pra ser tomada pela manhã, e a comprei no final da tarde, deixei pra tomar no dia seguinte, e assumo, a ansiedade (minha velha amiga) tomou conta. Aquela nuvem grande, cinza, pesada, estacionou na minha cabeça e foi uma das noites mais longas que eu já tive na vida. Ainda bem que mesmo sendo longa, ela passou e o dia raiou e veio a hora de tomar aqueles tabletinhos.
São dois, a dosagem é de 20mg/dia, mas comprar na dosagem de 10mg, fez com que o pedaço do fígado fosse menor e desse pra regenerar até a próxima conta em 60 dias. Mesmo comprando o "dobro". :)

Fiquei impressionada em como, logo no primeiro dia, eu já senti diferença. Não tinha nuvem, não tinha dores musculares, não tinha nervoso, não tinha preocupação, consegui dormir uma noite inteira, pela primeira vez em quase dois anos e me senti eu de novo. Não, os problemas não tinham sumido, as feridas não tinham cicatrizado, mas não incomodavam apesar de estarem ali. Aí, você que leu até aqui deve estar se perguntando: Como a pessoa vive assim tanto tempo?!?!?! Te falar, nem eu sei mas foi assim que eu vivi, ou sobrevivi esses últimos tempos. Outro dia tentei explicar pra um amigo extrangeiro como é o que eu sinto, e com a "barreira" do idioma a melhor forma de explicar foi:
Sabe quando você vai a um show, acompanhado, e a pessoa que está com você está se esguelando pra te dizer algo e a música está absurdamente alta e você não ouve nada????? Então, eu sou a esguelativa (existe essa palavra??) e a minha mente é o show alto acontecendo. E os tabletinhos, o que fizeram ai nessa loucura toda aí, você deve estar se perguntando (ou não). Os tabletinhos são o engenheiro de som, que abaixou o volume do show, fez com que a música continue a ser tocada, todos consigam ouvir a música e a companhia ao lado, mesmo que de vez em quando role uma microfonia. Mas no modo geral, o show tá ótimo. E eu estou me sentindo melhor, dia após dia.

Já consigo pensar com clareza, já consigo relevar muita coisa e com isso me organizar pro ano que está vindo aí. Voltarei a estudar. SIM, universitária mais uma vez. Com isso, também não terei tanto tempo pra remoer tanto esse show além de tentar voltar a fazer uma atividade física. O coração, até então, é meramente uma bomba sanguínea, mas vai saber até quando. E assim vou levando, com meus tabletinhos que muito me ajudam a continuar a ser eu.
Que o período de teste seja positivo e que eu não precise ter os meus tabletinhos por muito tempo na minha vida, somente pelo tempo necessário.

Não sinta vergonha, peça ajuda, converse com alguém preparado pra isso, tome os tabletinhos, se forem necessários. Não deixe que o outro te diminua por uma coisa que é sua e que pra ele é meramente uma frescura. Se cuide, aceite ajuda, você irá se curar.

Se você leu até aqui, minha gratidão. Boas festas e que o novo ano seja lindo como você.


X O X O

Nathy =D